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VALOR ECONÔMICO: Fundos sociais financiam projetos de comunidades afetadas pela pandemia

Três das mais tradicionais organizações brasileiras de apoio a direitos humanos uniram-se para financiar projetos sociais em comunidades indígenas e quilombolas, que estão entre as mais afetadas pela pandemia de covid-19 no país. Fazem parte da iniciativa, chamada Aliança entre Fundos, o Fundo Baobá de Equidade Racial, o Fundo Brasil de Direitos

Humanos e o Fundo Casa Socioambiental.

O objetivo é captar um total de R$ 5 milhões, metade dos quais já garantida, para distribuí-los, por meio de editais, a uma série de entidades e organizações que trabalham em favor dessas comunidades.

Juntos, os três fundos já captaram R$ 2,5 milhões em parceria com a Inter-American Foundation (IAF) e querem dobrar esse valor após apresentarem o projeto a investidores nacionais e estrangeiros na próxima quinta-feira (26), em um evento on-line.

“Decidimos nos voltar para essas comunidades de povos tradicionais, que têm mais dificuldade para acessar esse tipo de recurso. E também resolvemos trabalhar juntos nessa operação por causa da pandemia. Há muitos recursos, mas também muita disputa por eles”, afirma Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá.

Dados do Monitor das Doações Covid-19, da Associação Brasileira dos Captadores de Recursos (ABCR), mostram que, desde o início da pandemia, doações de pessoas físicas e empresas a projetos sociais somaram R$ 7,2 bilhões no Brasil.

Assim como outros gestores de organizações da sociedade civil, Selma Moreira observa um crescimento dos investimentos e doações ao longo da pandemia, mas diz que boa parte tem sido destinada a ações de curta duração.

“Vemos mais disponibilidade, mas os recursos estão olhando majoritariamente o curto prazo. É a cesta básica, a ajuda humanitária.” São muito necessários, diz, mas é preciso apoiar também estratégias de médio e longo prazo, acrescenta.

A ideia dos três fundos é atingir projetos de perspectiva mais longa. “Estamos trabalhando visando o médio e o longo prazo, numa perspectiva de garantir vida digna para esses grupos”, diz.

Para a diretora-executiva do Baobá um ativo importante dos chamados fundos independentes é a proximidade das organizações que atuam nas comunidades e de suas demandas. No caso da Aliança Entre Fundos, a junção é estratégica não só para amplificar a captação de recursos, mas para garantir capilaridade a eles. “Queremos que o dinheiro alcance um número maior de organizações”, diz.

Como diretora de um fundo que atua há dez anos com apoio a projetos e ações pró-equidade racial para a população negra, Moreira se diz otimista com o avanço da pauta ESG – sigla em inglês para um conceito que envolve práticas ambientais, sociais e de governança nas empresas -, algo que ganhou mais holofotes na pandemia, e espera que o conceito vire prática. “Essa pauta está ganhando corpo e notoriedade. Mas é preciso fazer com que o E, o S e o G existam de fato”, diz.

Uma empresa ESG é aquela que tem iniciativas para proteger os recursos naturais, cuida da lisura dos processos corporativos e tem engajamento social, com políticas de diversidade e mesmo projetos para reduzir a desigualdade na sociedade.

“Temos um histórico de organizações que sempre olharam para sua área primária de interferência. Mas a gente não vive numa bolha. As empresas precisam conectar sua agenda com as comunidades e sobretudo ouvir essas comunidades”, afirma Selma Moreira. Fonte: Valor Econômico