O que nos move?

Como resultado de um modelo civilizatório estruturado num projeto de colonialidade do poder e na lógica capitalista, racista, sexista e etnocentrista, o Brasil é um dos países que exibe as maiores taxas de desigualdades do mundo. As disparidades estão no campo racial, gênero, educação, clima, saúde, habitação, no acesso ao mercado de trabalho e no não reconhecimento dos diferentes modos de viver a cultura e a religiosidade presentes no país.

Para a Aliança entre Fundos, é preciso envidar esforços para a construção de um mundo que supere a lógica capitalista, racista, sexista e etnocentrista, adote uma perspectiva decolonial, reverta os efeitos nocivos da globalização e interrompa as violações sistemáticas dos direitos, com ênfase dos grupos mais vulneráveis. A resposta para essa transformação é assumir um compromisso real com a justiça social, racial e ambiental.

O que move os Fundos que compõem a Aliança entre Fundos é a possibilidade de contribuir para a transformação real da sociedade brasileira via o campo da filantropia. Acreditamos que as doações de recursos precisam reconhecer as particularidades sociais de cada grupo. As instituições filantrópicas devem ser solidárias diante das demandas que esses grupos apresentam, envidar esforços para o bem viver social dessas populações e apoiar o desenvolvimento de potências e soluções locais.

Além disso, as doações precisam urgentemente estar alinhadas ao enfrentamento do racismo estrutural. É preciso criar mecanismos de governação que não reproduzam ou reforcem as hierarquias raciais, heranças do processo de colonização e escravização, que permanecem vivos na nossa estrutura social. Juntos, esses fenômenos disseminam todas as formas de violências e violações dos direitos das pessoas negras e povos indígenas e impedem a consolidação efetiva da democracia no Brasil.

A filantropia brasileira também precisa atuar de forma efetiva para que nenhum grupo esteja submetido aos efeitos nocivos da degradação do meio ambiente. É preciso reconhecer que os fenômenos climáticos e outros desequilíbrios naturais causados pela ação humana impactam de maneira diferenciada as mulheres, com destaque para as mulheres dos grupos mais vulneráveis, as pessoas negras e os povos indígenas. São pessoas que estão na linha de frente no enfrentamento das violações dos seus direitos e que devem receber um olhar cuidadoso e atento no apoio para a solução dos conflitos.

É com base nesses princípios que as ações locais impulsionadas pela Aliança entre Fundos buscam a transformação por meio do enfrentamento do racismo e do etnocentrismo numa perspectiva deocolonial. Para nós, da Aliança entre Fundos, não há possibilidade da filantropia contribuir para a justiça social sem adotar a prática antirracista, atender as demandas locais respeitando o protagonismo dos grupos e promover a regeneração do meio ambiente no Brasil.